Politics, Business & Culture in the Americas

Millennials da América Latina querem reformas, não uma revolução

Jovens são menos radicais do que os mais velhos pensam. Mas a paciência deles com a democracia pode acabar a não ser que desafios como a desigualdade e mudanças climáticas sejam enfrentados, diz a jovem jornalista peruana na nossa reportagem de capa.
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Esse artigo foi adaptado da reportagem especial da AQ sobre os millennials na política | Read in English | Leer en español

Já está começando a acontecer: a geração millennial está dominando a América Latina. A nossa geração agora representa 23% da população da região, ou cerca de 155 milhões de pessoas, o que faz deste o maior volume de jovens em décadas. Aqueles na faixa mais jovem dessa geração têm agora 26 anos e os mais velhos completam 41 este ano, o que significa que eles estão cada vez mais em posição de moldar a política e a economia da América Latina. Alguns, como Gabriel Boric no Chile e Nayib Bukele em El Salvador, já estão no comando de seus países, dando indícios de como outros governos liderados pela geração millennial poderão ser no futuro.

Eles representam uma geração que se difere de maneira importante, e às vezes positiva, de seus pais e avós. Com algumas exceções notáveis, como na Venezuela, os jovens latino-americanos de hoje viveram a maior parte ou toda a vida adulta numa democracia, e estão acostumados a expressar livremente suas opiniões e eleger líderes, sem a opressão das ditaduras militares que eram a regra há não muito tempo, ainda no início dos anos 80. Nós crescemos durante uma era de desenvolvimento econômico, com uma redução nos índices de pobreza e mais acesso à educação na América Latina. Também vivemos durante um boom tecnológico que expandiu os horizontes da humanidade em uma velocidade sem precedentes.

E, no entanto, esse sentimento de progresso claramente se dissipou nos últimos anos, substituído por estagnação econômica, agitação social e um mal-estar generalizado, especialmente após a pandemia da COVID-19. Hoje, o desemprego e o subemprego estão no topo da lista das preocupações da geração millennial, alimentando um pessimismo generalizado sobre o futuro. Em muitos países, a classe política foi marcada por uma série aparentemente interminável de escândalos de corrupção, o que reforça a percepção de que a política só beneficia alguns poucos bem relacionados. Apesar das promessas das elites de construir sociedades mais meritocráticas e igualitárias, na vida cotidiana os jovens ainda enfrentam discriminação e estruturas de classe arraigadas. Em toda a região, do Chile, Bolívia e Equador em 2019 à Colômbia, Panamá e México mais recentemente, os jovens saíram às ruas para expressar seu descontentamento com a classe política e os padrões de vida em geral.

Não deveria surpreender, então, que a geração millennial latino-americana expresse mais ambivalência em relação à democracia e ao capitalismo do que as gerações anteriores. A opinião dos jovens dessa faixa sobre essas questões varia consideravelmente de país para país, mas, de acordo com uma respeitada pesquisa regional realizada em 2020 pela Latinobarómetro, 32% dos jovens que compõem a geração millennial na América Latina sentem que “não há diferença” entre um regime democrático e um regime autoritário. Isso se compara a 29% dos participantes com idades entre 41 e 60 anos e 23% das pessoas com 61 anos ou mais que concordaram. Ao mesmo tempo, quase um terço dos membros da geração millennial discordou da afirmação “Uma economia de livre mercado é o único sistema com o qual meu país pode se desenvolver”, em comparação com 26,1% e 22,7% entre as duas gerações mais velhas seguintes, respectivamente.

Há nuances nesses números, no entanto. Não é que a geração millennial esteja de repente desistindo da democracia em favor de caudilhos e ditadores, ou que a nossa geração esteja sendo influenciada por ideologias socialistas e pelo desejo de derrubar o sistema capitalista. Uma pequena maioria — 52% — ainda prefere a democracia ao autoritarismo em todas as circunstâncias, e o apoio às políticas de livre mercado é ainda maior, com 63%. Mesmo no Chile, que foi rotulado como um bastião do radicalismo da geração millennial após a eleição, em 2021, de Boric, um ex-ativista estudantil, 55% dos membros da geração millennial dizem ter uma visão favorável das políticas de mercado – e eleitores de todas as idades recentemente rejeitaram o que teria sido uma das constituições mais progressistas do mundo.

Então, o que a geração millennial latino-americana realmente quer da política? Estamos caminhando na direção de uma era de democracias saudáveis, ou esta geração se sentirá atraída pelo poder de governos autoritários? Prioridades como a desigualdade, mudanças climáticas e anti-extrativismo irão para o topo das agendas dos governos — ou o status quo permanecerá essencialmente em vigor? Em busca de respostas, ou pelo menos de algumas opiniões sobre essas questões, eu conversei com uma dezena de políticos desta geração. Esses indivíduos, do Brasil, Colômbia, Peru, Guatemala, Panamá, Argentina, Chile e México, exercem ou exerceram mandatos recentemente, ou fazem parte do processo de construção de um movimento político em seus países. Suas visões vão da esquerda progressista ao liberalismo centrista e ao libertarianismo de direita.

Claro que encontrei muitas diferenças. Mas, apesar da diversidade desse grupo, um tema amplo se destacou. Todos eles acreditam que a classe política, seja da esquerda ou da direita, falhou em sua promessa de criar sociedades mais equitativas e justas. E que, a menos que eles possam registrar algum sucesso rapidamente, a paciência dessa geração com os políticos — e talvez com a própria democracia — pode realmente se esgotar. “Os jovens estão entre aqueles que se inclinam ao autoritarismo, e posso entender por quê”, diz Gabriel Silva, 33, um deputado panamenho que concorreu como independente. “Há uma enorme frustração… um enorme descontentamento”.


A busca é por reforma, não revolução

Muitos dos jovens políticos que entrevistei disseram que decidiram entrar em ação por causa das crises dos últimos anos — e pela sensação de que não poderiam deixar as soluções nas mãos das gerações mais velhas. Para Tabata Amaral, 28, deputada federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), foram os protestos de 2013 contra a inflação e a estagnação econômica no Brasil. Samuel Pérez, 30 anos, deputado guatemalteco do Movimiento Semilla, de centro-esquerda, diz que foram as manifestações de 2015 contra a corrupção no governo de Otto Pérez Molina, quando ainda era estudante universitário, o momento decisivo. Eduardo Leite, 37, ex-governador do Rio Grande do Sul, diz que o escândalo de corrupção da Operação Lava Jato da década de 2010 manchou toda uma geração de políticos mais velhos — dando a entender que a tarefa foi deixada para líderes da sua faixa etária. E Álvaro Zicarelli, 40, conselheiro de política externa de Javier Milei, o aspirante libertário à presidência da Argentina, foi incentivado pelo que descreveu como as restrições excessivamente pesadas da pandemia em seu país.

Todos aqueles com quem conversei tiveram que superar enormes barreiras ao ingresso na vida política — incluindo seu próprio desdém pela classe. “Sempre tive uma visão muito negativa dos políticos. Sentia decepção, até nojo”, diz Mauricio Toro, 39, ex-deputado colombiano do Partido Verde que exerceu um mandato entre 2018 e 2022. Luis Donaldo Colosio, 37, atual prefeito de Monterrey, no México, inicialmente não se sentia à vontade com a ideia de participar do serviço público, apesar de receber convites de partidos políticos desde muito jovem, e só se animou depois de trabalhar por anos como assessor de seu pequeno partido, o Movimiento Ciudadano.

Apesar desse desgosto com o status quo, a maioria dos jovens políticos que entrevistei não falou em termos de mudanças econômicas ou políticas estruturais radicais. Embora eles busquem renovar a política e economia de seus países, essa transformação — ao contrário dos estereótipos mantidos pelas gerações mais velhas — não é apresentada em termos revolucionários ou mesmo ideológicos. Isso talvez seja porque eles acreditam que oportunidades econômicas mais amplas, educação de melhor qualidade, proteção das liberdades individuais e inclusão social são simplesmente direitos naturais.

De fato, a imagem que surgiu é que os políticos da geração millennial não deixaram de acreditar nos ideais da democracia e do livre mercado. Eles estão frustrados com a forma como o sistema funciona na prática e querem melhorá-lo, não substituí-lo. De fato, as demandas que ouvi eram mais pragmáticas por natureza. A eliminação da corrupção é um tema comum, assim como um acesso maior a oportunidades de emprego e educação. “A maioria dos jovens não apoia uma agenda radical (no Panamá). Eles estão interessados ​​em questões específicas”, diz Silva. Pedro Kumamoto, 32, ex-deputado estadual e atual vereador no estado mexicano de Jalisco, acha que há uma ansiedade generalizada em sua geração em relação a preocupações básicas muito concretas, como moradia, direitos  trabalhistas, aposentadoria e previdência social. Em outras palavras, “o que as revoluções do século anterior supostamente nos proporcionaram”. São necessidades “de senso comum” para Ana Martínez Chamorro, 34, membro do partido chileno Revolución Democrática.

Mauricio Toro, 39, ex-deputado colombiano. Foto: Martin Galindo/Long Visual Press/Getty

“Sempre tive uma visão muito negativa dos políticos. Sentia decepção, até nojo.”

A principal forma de atingir esses objetivos, segundo os políticos que entrevistei, é garantir que a classe política da América Latina cumpra de fato sua função representativa. “O maior problema (no Brasil) é a desconexão da política com o povo”, diz Amaral. Na Colômbia, os partidos políticos tradicionais tomam decisões que não têm nada a ver com a realidade vivida pelos eleitores, concordou Toro, o que alimenta uma desconfiança generalizada. Em toda a região, as gerações mais jovens não se veem refletidas na política partidária e querem que a velha classe política seja substituída. Depois que o presidente peruano Martín Vizcarra sofreu o impeachment pelo Congresso em 2020, uma medida considerada altamente corrupta e antidemocrática pela maioria no país, foram principalmente os jovens que foram às ruas para protestar, cantando em coro: “Os dinossauros vão desaparecer”.

Essas preocupações parecem simples. É difícil discordar com a necessidade de oferecer aos jovens melhores oportunidades na vida. Exigir mais representação política não é, à primeira vista, uma questão polêmica. Pelo menos teoricamente, a democracia consiste em fornecer um lugar à mesa para todos os grupos de uma sociedade. Mas, embora a geração millennial latino-americana possa acreditar que suas demandas sejam sensatas, ela enfrenta um desafio significativo: as elites que governam a América Latina há décadas não têm muito incentivo para mudar o status quo.


Desafios sistêmicos

Entender a razão para isso requer analisar as últimas três décadas da história da América Latina. Até 1977, havia apenas três democracias verdadeiras na região: Costa Rica, Colômbia e (ironicamente) Venezuela. Hoje, por outro lado, mais de 90% da população da região vive em governos democráticos, embora muitos deles estejam retrocedendo ou sob ameaça. Essa transição teve sua parcela de progresso: movimentos sociais que apoiam causas como a representação indígena, a igualdade de gênero, o acesso ao aborto e a proteção de minorias têm feito campanhas bem-sucedidas por mais direitos políticos e socioeconômicos. E, no entanto, como diz o ditado, quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem iguais. Apesar da eleição de governos de esquerda no início dos anos 2000 que buscavam aumentar o papel do Estado na economia após anos de políticas de ajuste estrutural e que prometiam trazer justiça social para os menos favorecidos, as tendências oligárquicas e os altos níveis de desigualdade da América Latina permanecem.

Uma explicação para isso é que o processo de democratização na região foi em grande parte controlado pela elite. No Brasil e no Peru, os militares deixaram o poder em grande parte sob seus próprios termos e mantiveram um grau de influência que ajudou a proteger o status quo. O fim da ditadura de Augusto Pinochet em 1990 trouxe o retorno de muitas das mesmas figuras do passado, incluindo os presidentes Patricio Aylwin e Eduardo Frei, que haviam sido proeminentes na política chilena antes do golpe de 1973. Também em outros lugares, incluindo a Argentina, o governo voltou às mãos das elites que estavam no comando antes da interrupção da democracia, e que muitas vezes optaram pela estabilidade política em vez de uma reforma em escala mais ampla.

Outra barreira é que as economias latino-americanas são construídas de forma a consolidar a desigualdade. Impulsionados pelo boom das commodities dos anos 2000, os países investiram nas matérias primas como sua principal fonte de riqueza e dobraram a extração de bens primários, como minério, gás e petróleo. Mas essas não são indústrias de mão de obra intensiva e, portanto, as elites têm pouco incentivo para investir em sua força de trabalho. Os governos de esquerda contavam com políticas de bem-estar de impacto limitado, como transferencias condicionais em dinheiro, que visavam as populações em extrema pobreza. Mas as medidas que poderiam transformar as condições de vida das pessoas de forma mais ampla, como reforma tributária, do ensino superior ou a racionalização dos mercados de trabalho, ou iam contra os interesses da elite ou não tinham o apoio da população.

Em outras palavras, a geração millennial herdou uma estrutura política e econômica que opera contra eles. Aqueles que agora buscam melhorar o sistema enfrentam um obstáculo adicional: os sistemas partidários na região tornaram-se cada vez mais rígidos nas últimas duas décadas. Nas décadas de 1980 e 1990, os países da região geralmente tinham poucas exigências para registrar um partido político, em termos de assinaturas, número de afiliados, mínimo de votos para evitar o cancelamento do registro e assim por diante. Isso porque durante as transições democráticas, os partidos se tornaram fundamentais e eram considerados uma forma de canalizar as visões políticas dos cidadãos. Mas desde então, as elites políticas, em um esforço de se manter no poder e evitar fragmentação, fecharam seus sistemas partidários, dificultando a criação e o registro de novos movimentos políticos.

Tabata Amaral, 28, deputada federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty

“O maior problema (no Brasil) é a desconexão dos políticos com a população.”

Esta é uma questão particularmente difícil para os jovens políticos de hoje, que muitas vezes não querem afiliar-se a partidos tradicionais considerados impopulares e sem legitimidade. Os políticos com quem conversei relataram obstáculos burocráticos significativos, e às vezes surpreendentes, no processo para a construção de seus próprios movimentos. A legislação guatemalteca, por exemplo, exige formalmente que os partidos apresentem 25 mil assinaturas para que possam ser registrados, mas Samuel Pérez diz que, como o conselho eleitoral geralmente rejeita cerca de 80% das assinaturas apresentadas, o Movimiento Semilla teve que apresentar 100 mil assinaturas no total para cumprir o limite. Cada assinatura também tinha que ser certificada por um advogado. No México, o partido de Kumamoto, o Futura, foi obrigado a realizar 88 assembleias municipais — e cada uma delas precisava ter pelo menos 0,2% da população do estado de Jalisco presente. Indira Huilca, 34, ex-parlamentar peruana eleita em 2016, destacou que embora os legisladores peruanos tenham eliminado a exigência de registro de 100 mil assinaturas, os partidos agora precisam ter comitês em pelo menos dois terços das regiões do país e em pelo menos um terço das províncias. Os jovens podem ter entusiasmo e vontade de participar da política, mas, como recém-chegados, geralmente carecem de experiência e recursos, o que torna muito difícil a navegação por sistemas jurídicos complexos.

Mesmo que os políticos da geração millennial superem os obstáculos burocráticos e consigam se eleger, manter uma postura de oposição às forças no poder e permanecer na briga é quase impossível com o passar do tempo. No Peru, a ex-deputada e duas vezes candidata presidencial Verónika Mendoza já foi considerada uma recém-chegada e promissora progressista. Mas isso começou a mudar depois que seu partido, o Nuevo Perú, formou uma aliança eleitoral com o governador da extrema esquerda Vladimir Cerrón em 2019, provocando a renúncia de dezenas de membros do partido em protesto. Depois de participar do governo do presidente Pedro Castillo, o Nuevo Perú agora é visto por muitos peruanos como apenas mais um partido corrupto e interesseiro. E a advertência mais recente nesse sentido pode ser Boric — que assumiu o cargo em março como a imagem empolgante de uma nova geração e viu seu índice de aprovação cair para a faixa de 30% apenas um mês depois, porque não conseguiu lidar com problemas imediatos como inflação, crime e impasse político.

Gabriel Silva, 33, deputado independente panamenho. Foto: GabrielSilvaDiputado.com

“A maioria dos jovens não apoia uma agenda radical (no Panamá). Eles estão interessados em questões específicas.”


Redes sociais e democracia

Mesmo as ferramentas que deveriam favorecer os políticos da geração millennial podem estar trabalhando contra eles. A América Latina tem um dos índices de uso de redes sociais mais altos do mundo, e políticos como Huilca, Silva e Toro, acreditam que essas plataformas os tornam mais sintonizados com o eleitorado do que seus pares mais velhos. “Os jovens políticos são melhores em se conectar com as necessidades reais das pessoas, melhores em se envolver através das redes sociais”, diz Toro. Mas há poucas evidências de que as redes sociais promovam formas efetivas de engajamento político, como a participação dos eleitores através do voto.

De fato, estudos na Europa sugerem o contrário: o uso da internet reduziu a participação na Alemanha, Itália e Reino Unido. Na verdade, está bem claro que as redes sociais têm um impacto negativo na avaliação dos indivíduos sobre a democracia. O relatório AmericasBarometer de 2018 indica que apenas 37,7% dos usuários de redes sociais na América Latina estavam satisfeitos com a democracia, em comparação com 43,8% dos não usam as redes. Os usuários também relatam menos confiança em instituições como o poder judiciário, parlamento e eleições. Isso não os torna necessariamente apoiadores do autoritarismo — os usuários de redes sociais expressam maior apoio à democracia como um ideal — mas a constante exposição à informação os torna hiperconscientes dos fracassos da classe política, especialmente quando essas plataformas também funcionam como sua principal fonte de notícias. As redes sociais também podem exacerbar a polarização entre a elite política, de acordo com Pablo Argote, pesquisador da Universidade Columbia, de Nova York, que estuda os efeitos políticos das redes sociais. Ele descobriu que, no Chile, as interações da elite política no Facebook nos últimos dez anos produziram visões mais extremistas porque postagens negativas e raivosas são compartilhadas mais amplamente. Nesse ambiente, é extremamente difícil que os políticos consigam promover e aprovar legislação para causas menores — e mais ainda enfrentar prioridades difíceis e urgentes, como as mudanças climáticas.

Já estamos testemunhando o que acontece quando um jovem político combina as redes sociais com um estilo de governo autoritário e populista. Bukele, o polêmico presidente de El Salvador, foi descrito como o primeiro líder autoritário da geração millennial do mundo porque construiu uma marca pessoal moderna por meio das redes sociais que lhe permite ignorar as instituições democráticas. Ele fala diretamente com a população e seus assessores através de plataformas como o Twitter, fazendo-o parecer transparente e carismático, características valorizadas pelos eleitores desiludidos com a política e principalmente pelos jovens. Mas, ao mesmo tempo, seu forte apoio — aproximando-se de 90% em algumas pesquisas — o encoraja a tomar medidas autoritárias, como enviar tropas ao Congresso para pressionar os legisladores a aprovar uma lei de segurança.


Líderes democráticos versus líderes personalistas

De fato, alguns analistas temem que Bukele represente o futuro na América Latina; que seu tipo corrosivo de política conquistará adeptos que veem as instituições como bastiões controlados por elites egoístas e, em vez de protegê-las, optem por depositar sua fé em indivíduos supostamente puros. Eles apontam para outros líderes personalistas, incluindo o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, e o deputado argentino Javier Milei, e dizem que esse processo já está em andamento. Se as economias continuarem enfraquecidas após a pandemia e as redes sociais continuarem a gerar polarização e impossibilitar que se chegue a um acordo, os sucessores da geração millennial poderão se tornar ainda menos democráticos nos próximos anos.

Para que esse cenário terrível seja evitado, as elites políticas e empresariais da região terão que se convencer de que uma reforma genuína — do tipo que permita que as economias cresçam, reduzindo a lacuna da desigualdade e fornecendo incentivos para um futuro ecologicamente consciente — é de seu interesse. Grande parte da população teria que se mobilizar, não apenas nas redes sociais, mas nas ruas ou por meio da sociedade civil organizada, para ajudar a garantir essa transição. E embora possa parecer uma contradição, os cidadãos também terão que entender que uma mudança estrutural leva tempo — e dar a seus líderes eleitos o espaço para ter sucesso.

É uma tarefa assustadora. Mas vimos gerações anteriores de políticos democraticamente eleitos na América Latina apresentarem resultados positivos, embora imperfeitos. Agora é a vez da geração millennial fazer ainda melhor.

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Tags: Democratic Governance, Future of Democracy, Latin America, Millennials in Politics
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