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As dez figuras-chave do novo governo brasileiro

Reading Time: 7 minutesUm olhar mais atento ao círculo íntimo do presidente — e as visões de mundo que disputam sua atenção
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Este artigo foi adaptado da nossa última edição impressa. Para acessar a reportagem completa clique aquiRead in English

Os Devotos

Flávio, 37, Carlos, 36, e Eduardo Bolsonaro, 34
Filhos e políticos

Quem são: Homens agressivos e poderosos, os filhos de Bolsonaro sintetizam a ideologia do pai e vêm desempenhando papéis críticos no desenvolvimento de uma visão ”Trumpiana‟ do mundo para o novo governo. 

O que vão fazer: O comportamento que tende à promover rupturas, como o comentário de Eduardo de que o Supremo Tribunal Federal poderia ser fechado, provavelmente continuará. Isso alimenta as facções mais intransigentes da base de aliados do governo e fornece ao pai deles a oportunidade de desempenhar o papel de moderador, tranquilizando os eleitores que o apoiam com hesitação. Eduardo também está se tornando uma voz influente na política externa: ele participou da decisão de nomear o novo ministro das Relações Exteriores e age como um representante dos Estados Unidos no governo.

Ricardo Vélez Rodríguez, 75
Ministro da Educação

Quem é: Vélez nasceu na Colômbia e é filósofo e professor da escola do Exército. Endossado por Olavo de Carvalho, ele se alinha a grupos conservadores. Em seu blog, ele critica o globalismo “politicamente correto” e chama os brasileiros de “reféns de um sistema de educação que doutrina estudantes em cientificismo e marxismo”.

O que vai fazer: Vélez elogia as escolas militares por seu modelo de “ensino disciplinar”. Analistas acreditam que suas políticas serão desenhadas para agradar a base evangélica e conservadora de Bolsonaro. Ele promete, por exemplo, “limpar” o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de “doutrinação ideológica”.

Gustavo Bebianno, 54
Secretário-geral do gabinete do presidente

Quem é: Bebianno é um advogado que não tinha nenhuma experiência política até 2017, quando se tornou amigo de Bolsonaro. Durante grande parte de 2018, ele foi presidente do PSL. Braço direito do presidente, Bebianno foi uma das poucas pessoas que acompanhou o então candidato ao quarto do hospital que o atendeu depois de ser esfaqueado. 

O que vai fazer: Bebianno será ministro da Secretaria-Geral da Presidência, um papel semelhante ao de chefe de gabinete. Na prática, ele vai ajudar a coordenar o gabinete e dar forma à agenda política de Bolsonaro.

Sérgio Olímpio Gomes (“Major Olímpio”), 56
Senador por São Paulo

Quem é: Major Olímpio, um policial militar, foi coordenador da campanha de Bolsonaro em São Paulo. Primeiro, ele foi eleito deputado federal em 2014, depois, surpreendeu os pesquisadores ao derrotar políticos experientes na corrida ao Senado por São Paulo, em 2018. Ele provavelmente será líder do governo no Senado e uma voz de liderança entre as bancadas evangélica e de proponentes da lei e da ordem no Congresso.

O que vai fazer: Além de seus discursos contra a corrupção, o Major Olímpio será porta-voz da linha dura em temas ligados à lei e à ordem, propondo legislação mais liberal para o porte de armas e a redução da idade para a responsabilidade criminal e, provavelmente, será uma voz dissidente no debate sobre a reforma da Previdência.

Onyx Lorenzoni, 64
Principal negociador do governo com o Congresso

Quem é: Lorenzoni, um político de pavio curto que esteve entre os primeiros a apoiar a campanha de Bolsonaro, aproximou-se do atual presidente em 2002, quando ambos faziam parte da bancada da Câmara que se opôs à legislação para controlar o porte de armas. Em 2017, Lorenzoni passou a organizar uma reunião semanal em Brasília para aproximar legisladores-chave e figuras influentes nos bastidores do poder a Bolsonaro.

O que vai fazer: Sua principal missão será angariar apoio ao governo no Congresso. Bolsonaro foi eleito com base na promessa de que ele rejeitaria qualquer tipo de negociação do tipo “toma-la-dá-cá” com o Congresso. A habilidade do novo presidente de governar o país dependerá do sucesso de Lorenzoni.

Ernesto Araújo, 51
Ministro das Relações Exteriores

Quem é: Araújo é diplomata de carreira de nível médio. Ele foi Diretor do Departamento dos EUA, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty. Em seu blog pessoal, Araújo elogia Trump, descreve as mudanças climáticas como uma conspiração marxista e se exalta contra esforços “anti-humanos e anticristãos” de construir um governo mundial. 

O que vai fazer: Se Bolsonaro cumprir suas promessas mais polêmicas, como transferir a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, Araújo será o representante do governo que deve lidar com as consequências. Internamente, ele atrai a base ideológica de Bolsonaro.

O Guerreiro da Corrupção

 

Sérgio Moro, 46
Ministro da justiça

Quem é: Moro, um dos juízes responsáveis pela Operação Lava Jato, leva prestígio ao governo de Bolsonaro para além do núcleo do presidente. Mas sua decisão de se tornar um “superministro” intensificou as suspeitas de que ele tivesse motivações políticas durante o período em que atuou como juiz federal.

O que vai fazer: Reformas anticorrupção — de fazer lobby em favor de mudanças na legislação, a medidas técnicas de combate a crimes financeiros — serão prioridade na agenda de Moro, mas ele também vai supervisionar a área crucial de políticas de segurança pública. Moro pode discordar de Bolsonaro em tópicos como a redução da idade de responsabilidade criminal ou o apoio às legislação para criminalizar certos movimentos sociais.

O Economista

Paulo Guedes, 69
Ministro da Economia

Quem é: Guedes é doutor em Economia pela Universidade de Chicago, e teve uma carreira bem-sucedida em finanças. Ele é o “superministro” de Bolsonaro para a política econômica. A nomeação de Guedes durante a campanha foi chave para Bolsonaro ganhar o apoio do mercado financeiro.

O que vai fazer: Guedes será responsável por um ministério expandido com uma carteira que inclui o fisco, as políticas de privatizações e reformas microeconômicas. Os críticos apontam para sua falta de experiência administrativa ou política e seu caráter explosivo como motivos de preocupação. O primeiro teste de Guedes será a reforma da Previdência. Se ele for incapaz de apresentar um plano de ação claro rapidamente, poderá perder credibilidade com o mercado.

Os Generais

Augusto Heleno, 71
Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional

Quem é: Heleno, general de quatro estrelas aposentado do exército, foi comandante da missão de paz da ONU no Haiti, em 2004 e 2005. Idolatrado por militares da ativa, Heleno é a chave para manter as forças armadas próximas ao governo.

O que vai fazer: Oficialmente, Bolsonaro escolheu Heleno para liderar o Gabinete de Segurança Institucional, que supervisiona questões de inteligência e a segurança do presidente. No entanto, ele tem assessorado o presidente em uma gama muito mais ampla de questões — e é visto como um elemento de moderação em áreas como a política externa e de segurança pública.

Hamilton Mourão, 65
Vice-Presidente

Quem é: Mourão, outro general de quatro estrelas do exército, aposentou-se em fevereiro de 2018, não muito depois de ter sugerido que a solução para a crise política do Brasil seria uma intervenção militar.

O que vai fazer: Durante a campanha, Mourão fez várias declarações contradizendo Bolsonaro. Recentemente, ele tem tentado aumentar sua visibilidade e influência em áreas como a política externa, ao adotar uma postura mais construtiva e globalista em questões como a relação do Brasil com a China.

Outros nomes no radar: Carlos Alberto dos Santos Cruz, Floriano Peixoto, Vieira Neto, Aléssio Ribeiro Souto


A Oposição

Fernando Haddad, 55
Ex-candidato presidencial pelo Partido dos Trabalhadores

Por que é de oposição: Com Luiz Inácio Lula da Silva atrás das grades, provavelmente por muitos anos, começou a luta pelo poder dentro da abatida ala de oposição brasileira. Haddad foi derrotado significativamente no segundo turno, mas provavelmente permanecerá como o líder do Partido dos Trabalhadores (PT), o maior partido no Congresso após as eleições, e ainda o nome mais poderoso dentro da esquerda brasileira.

O que esperar dele: Haddad não terá de começar do zero o esforço para reconstruir o PT. Embora ele próprio também enfrente acusações de corrupção, não parece estar em perigo iminente e sua imagem entre os progressistas brasileiros é positiva. O maior desafio para Haddad vai ser ataques de outros líderes de dentro do PT, como a Senadora Gleisi Hoffmann, e outros que tentam minar a hegemonia do PT sobre a esquerda, como Ciro Gomes.

Folha de S.Paulo

Por que é de oposição: Depois de chamar a Folha de S. Paulo de a “maior fake news do Brasil”, Bolsonaro barrou a participação do jornal em sua primeira coletiva de imprensa após a vitória. As investigações da Folha sobre alegações de corrupção e fraude de campanha contra Bolsonaro colocaram o presidente na defensiva. Entre elas estão revelações de que o então candidato teria se beneficiado de um esquema ilegal para inundar o WhatsApp com propaganda e notícias falsas.

O que esperar dela: A Folha já é a voz mais forte contra o governo na mídia, e o jornal parece ter abraçado totalmente esse papel. Aliados de Bolsonaro estão processando o jornal e o presidente se comprometeu a cortar toda a verba de publicidade de seu governo ao jornal. A Folha ainda tem uma independência financeira significativa, e o antagonismo do governo provavelmente vai elevar sua reputação.

Outros nomes no radar: Ciro Gomes, Luciano Huck, Gleisi Hoffmann, Jean Wyllys, Guilherme Boulos, Jaques Wagner

Créditos Fotográficos: Ricardo Velez Rodriguez’s Facebook Page; Mauro Pimentel/AFP/Getty; Sergio Lima/AFP/Getty; Evaristo SA/AFP/Getty; Geraldo Magela/Agencia Senado/Flickr; Leo Correa; Andres Leighton/AP; Jackson Ciceri/Istoe.com.br; Mauro Pimentel/AFP/Getty; Patricia Monteiro/Getty; Mark Kauziarich/Getty; Sergio Lima/AFP/Getty; Ueslei Marcelino/Reuters; Dida Sampaio/Estadao Conteudo/AP; Daniel  Ramalho/AFP/Getty

O’Boyle é editor sênior na AQ. Siga-o no Twitter @BrenOBoyle

 

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Brendan O’Boyle is a former senior editor at Americas Quarterly.

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