Esse artigo foi adaptado da reportagem especial da AQ sobre a cibersegurança | Read in English | Leer en español
O amor da América Latina por tecnologia e dispositivos modernos tem um custo oculto que está se tornando mais visível a cada dia: a vulnerabilidade a ataques cibernéticos.
O enorme ataque de ransomware que atingiu a Costa Rica em abril de 2022, paralisando as exportações do país e expondo gigabytes de informações confidenciais online, serviu como um sinal de alerta para toda a região. A América Latina e o Caribe são a região menos preparada do mundo para ataques cibernéticos, de acordo com um índice compilado por uma agência da Organização das Nações Unidas.
Isso é em parte o resultado de uma tendência positiva: após a pandemia, uma fatia gigantesca de nossas vidas passou a ser online, e a América Latina e o Caribe tiveram inovações consideráveis em áreas como fintech e comércio eletrônico. Mas essa transformação não foi acompanhada por esforços e investimentos para manter os sistemas digitais seguros, escreve a editora-chefe da AQ, Cecilia Tornaghi, em nossa matéria de capa. “O espírito empreendedor e inovador da América Latina não vem acompanhado de uma preocupação com a segurança”, diz Louise Marie Hurel, fundadora da Latin American Cybersecurity Research Network.
Especialistas dizem que ter um plano de segurança, assim como campanhas de educação e treinamento, é fundamental. De acordo com um estudo da IBM, 95% de todos os ataques cibernéticos começam com um erro humano. Um e-mail malicioso do tipo phishing, que leva alguém a clicar em um vídeo engraçado ou em uma oferta boa demais para ser verdade, é o que basta para que um malware se instale e se espalhe dentro de um sistema. E as tentativas abundam: segundo cálculos de especialistas, as empresas latino-americanas e caribenhas sofrem 1.600 ataques cibernéticos por segundo. Muitas vezes, um ataque não será detectado até que o ransomware comece, ou os dados apareçam para venda na dark web, como aconteceu com toda a população da Argentina e com cidadãos de Medellín depois que uma empresa de serviços públicos, a EPM, foi hackeada.
Embora a segurança cibernética seja um problema global, na América Latina, um atraso na adoção de nova legislação e a falta de conscientização muitas vezes deixam o problema para ser resolvido apenas por especialistas em tecnologia. Mas as equipes de TI não têm condições de solucionar a crise quando os investimentos necessários não são feitos. A segurança digital é um problema estrutural que precisa ser enfrentado pelas cúpulas executivas de grandes empresas e pelos habitantes de palácios presidenciais. Em suma, precisamos de liderança.