Nos próximos dias 19 e 20 de Março, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, visitará o Brasil pela primeira vez desde que assumiu o posto em 2009. Obama, que virá acompanhado de sua família, terá uma agenda protocolar com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, e visitará também uma favela no Rio de Janeiro. Além do Brasil, Obama segue também para o Chile e El Salvador, nessa que é também a sua primeira visita à América Latina.
No Rio, a expectativa é que Obama visite a comunidade Chapéu Mangueira, no morro da Babilônia. A escolha dessa localidade deve ocorrer por uma relação pessoal de Obama com essa comunidade, o que o faz tê-la citado em sua autobiografia. Neste morro, foi gravado, em 1959, o filme O Orfeu da Conceição, uma co-produção franco-brasileira dirigida por Marcel Camus a partir de um roteiro do poeta e cantor Vinícius de Morais, um dos inventores da Bossa Nova. O filme teria sido apresentado a Obama por sua mãe, quando ele era jovem.
A comunidade Chapéu Mangueira é também uma das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), zonas pacificadas pelo poder público após a expulsão de traficantes de drogas que controlavam a localidade e pretende ser uma resposta à comunidade internacional, fruto da pressão por melhorias na segurança pública durante a realização da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos, em 2016.
Além de acordos comerciais, a visita do primeiro presidente negro americano pretende consolidar a sua imagem positiva no maior país da América Latina, um das mais promissoras nações emergentes e a maior diáspora africana das Américas. Segundo pesquisa realizada entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, pelo Serviço Mundial da BBC, 64 por cento dos brasileiros consideram positivo o papel dos Estados Unidos, índice nove pontos percentual maior do que na pesquisa anterior. Essa melhoria na imagem deve-se ao efeito Obama, já que em 2007, 54 por cento dos entrevistados tinham uma opinião negativa sobre a nação estadunidense.
Para analistas políticos, essa visita também terá o papel de ratificar a posição do Brasil como um player global. Na gestão do presidente Lula, o país aumentou sua projeção abrindo novos postos diplomáticos no continente africano, estando hoje entre os dez maiores doadores internacionais e lidera, desde 2004, a missão de paz no Haiti. Na área econômica já está a poucos passos de superar a Itália e assumir o posto de sétima economia mundial com o Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 3.675 trilhões em 2010. Não foi à toa que diversos líderes mundiais participaram da cerimônia de posse da presidente Dilma Rousseff, no último mês de janeiro, incluindo a secretária de Estado americano Hillary Clinton.
Na agenda de discussão estão incluídas propostas comerciais e ações conjuntas como o Plano Brasil-EUA contra a discriminação racial, um acordo diplomático assinado, em 2008, pela então secretária de Estado, Condoleezza Rice e que visa realizar ações governamentais em prol da igualdade racial. O Plano que prevê ações nas áreas de educação, segurança pública, saúde e comunicação ainda segue a passos lentos, porém deve ser impulsionado esse ano com a declaração da ONU de que 2011 é o Ano Mundial dos Afrodescendentes.
No Brasil, quase metade da população, cerca de 90 milhões de pessoas, é de origem afrodescendente. Apesar de ações com vistas à igualdade racial desenvolvidas no governo do ex-presidente Lula, ainda são latentes as desigualdades que se manifestam na educação, na pouca representação na mídia, mercado de trabalho, entre outras áreas da vida brasileira. Para lideranças do movimento negro brasileiro, a visita do primeiro presidente negro estadunidense pode estimular mudanças positivas no Brasil e influenciar uma agenda comum pela equidade nos dois países.
*Paulo Rogério Nunes é um blogueiro que contribui para AQ Online. Paulo é diretor-executivo do Instituto Mídia Étnica e co-editor do Portal Correio Nagô. Twiiter: www.twitter.com/paulorogerio81