As próximas eleições presidenciais brasileiras não só marcarão o fim da chamada “era Lula”—quando o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva finaliza o seu segundo mandato, mas também será a primeira vez que o uso das redes sociais como Twitter, Orkut, Facebook e Ning será autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral nas campanhas políticas. Por esses e outros motivos, esse pleito eleitoral pretende entrar para história como um dos mais complexos e disputados.
Até 2009, a legislação brasileira proibia campanhas eleitorais pela internet, com exceção dos sites oficiais destinados a este fim, que tinha o final “.can”. Nas últimas eleições, por exemplo, a rede social Orkut foi obrigada a deletar arbitrariamente perfis de jovens que adicionavam números dos candidatos em suas fotos de apresentação ou faziam apologias político-partidárias nos fóruns. Uma ação quase inquisitória em um ambiente tradicionalmente livre da Internet, além de ferir a liberdade de expressão.
Mas, passada essa fase de “caça digital”, como os pré-candidatos ao Palácio da Alvorada estão usando a Internet?
O candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o atual governador de São Paulo, José Serra ainda não decidiu, com todas as letras, se enfrentará a batalha por Brasília, mas pelo menos usa o Twitter de maneira exemplar. Conhecido pela sua insônia, é comum Serra postar tweets na madrugada para saber dos eleitores o que acham de sua candidatura e opinar sobre variados temas. Serra está a um ano no Twitter e pelo visto deverá fazer bom uso da ferramenta—já são mais de 200 mil seguidores, porém o seu partido ainda está tímido nas ações digitais. Esse quadro deve mudar tão logo seja confirmada a candidatura de Serra.
Já a candidata Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), que até pouco tempo não usava nem Orkut, a rede social mais popular no Brasil, entrou na vida 2.0 muito bem assessorada: contratou para a campanha um dos maiores ativistas digitais do país, o Marcelo Branco, criador da versão brasileira do Campus Party—um mega congresso de geeks e ativistas de mídia—e lançou no último dia 19/04 seu blog, Twitter oficial, conta no Facebook, flickr e abriu uma conta para doações, seguindo o exemplo do presidente Barack Obama.
Até o pré-candidato do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Plínio Arruda Sampaio, 79 anos, não resistiu à tentação digital e aderiu à onda das redes sociais criando a sua conta no Twitter.
Por último, mas não menos importante, é preciso citar a participação da candidata Marina Silva do Partido Verde (PV) no mundo virtual. A ambientalista, e ex-ministra do Meio Ambiente do Governo Lula, está usando de maneira inteligente as novas mídias, uma vez que terá menos tempo de propaganda gratuita na TV em relação aos outros candidatos.
A comunidade suprapartidária “Movimento Marina Silva” no Ning já possui mais de 16 mil membros. Lá existem desde jovens idealistas que votarão pela primeira vez—no Brasil, o voto é obrigatório—assim como empresários que fazem responsabilidade social e até membros de outros partidos como PT e PSDB que resolveram “marinar” como sugere o movimento.
Agora é só esperar o início oficial da campanha política 2010 e confirmar se o uso das redes sociais pode melhorar a participação dos cidadãos nos debates eleitorais e dar mais visibilidade a candidaturas menores para reverterem um pouco a influência da chamada Grandes Mídia na decisão final do eleitor. Vamos aguardar até outubro para ver o resultado dessa primeira eleição 2.0 para presidente do Brasil.
Paulo Rogério Nunes é blogger convidado do AmericasQuarterly.org. Ele é fundador do Instituto Mídia Étnica em Salvador, Brazil, e é um dos autores na edição de inverno de 2010 da revista Americas Quarterly. Leia seu artigo na AQ.